RASHI
Rashi
Rashi
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(4800-4865)
Todo pequeno aluno no cheder conhece este nome. Todo
menino judeu anseia pelo dia feliz em que começará a estudar o Chumash com
Rashi. A própria escrita de Rashi é fascinante! Quando começa o Chumash com
comentários de Rashi, o menino sabe que atingiu um novo marco em sua maravilhosa
estrada rumo à sabedoria e ao conhecimento.
Quem foi Rashi? Quando e onde
viveu? Como? Estas são algumas das perguntas que muitas crianças fazem a si
mesmas quando começam a estudar Rashi, e algumas dessas questões serão
respondidas aqui.
"Rashi" não é o nome completo deste homem notável. É
meramente uma combinação de três letras hebraicas, "Resh, Shin e Yud", as
iniciais de Rabenu Shlomo Yitschaki - nosso Rabi Solomon, o filho de
Yitschak.
Rabenu Solomon Yitschaki, ou Rashi como geralmente é chamado,
nasceu há quase 900 anos, em 4800, na cidade de Troyes na França; algumas
pessoas acreditam que nasceu em Worms. Viveu 65 anos. Acredita-se que era
descendente do Rei David. Seu pai Yitschaki era um grande erudito, mas muito
pobre. Ele ganhava seu magro sustento com a venda de vinho.
Conta-se uma
linda história sobre o nascimento de Rashi. Seu pai certa vez encontrou um
diamante raro. "Agora, não haverá mais pobreza," pensou ele, e foi ao joalheiro
vender a pedra preciosa.
O joalheiro não tinha dinheiro suficiente para
adquirir um diamante tão grande, e sugeriu que o bispo o comprasse. Ora, o bispo
estava procurando um diamante como aquele para colocá-lo em sua cruz. Ele
ofereceu uma grande quantia em dinheiro. Quando Rabi Yitschak soube para qual
finalidade o bispo desejava a pedra, recusou-se a vendê-la. Ele sabia, no
entanto, que se não vendesse a jóia, esta poderia ser-lhe tirada à força, e
portanto atirou-a ao mar.
Neste momento soou uma Voz Celestial: "Por este
grande sacrifício você será abençoado com um filho que brilhará mais que todas
as pedras preciosas do mundo, e a luz de sua Torá reluzirá para
sempre."
No ano seguinte nasceu-lhe um filho, que ele chamou de Salomão,
dizendo: "Que D'us conceda a ele a mesma sabedoria do Rei Salomão."
Rashi
ainda era jovem quando deixou sua terra e foi para Worms e outras cidades que
eram famosas por seus eruditos de Torá. Com muito zelo, Rashi estudou Torá e
Talmud, e após oito anos de ardorosos estudos voltou à sua cidade de origem.
Estava com 25 anos, mas continuou a estudar por si mesmo. Logo se tornou
conhecido como um grande sábio, e milhares de estudantes e eruditos o procuravam
para aprender com ele. Rashi foi então nomeado Rabino de Troyes, mas não aceitou
salários, e sustentava-se com a venda de vinho, como seu pai costumava
fazer. Rashi começou a escrever seu famoso comentário sobre o Tanach e Talmud
ainda muito jovem. A Torá era muito difícil de ser entendida corretamente, e o
Talmud ainda mais complicado. Rashi decidiu escrever um comentário em linguagem
simples que tornaria fácil para todos estudar e entender a Torá. Porém Rashi era
muito modesto, e mesmo depois de ficar famoso em toda parte, hesitava em mostrar
publicamente seus comentários. Ele queria ter certeza de que seria recebido de
maneira favorável. O que fez então? Escreveu seus comentários em tiras de
pergaminho e empreendeu uma jornada de dois anos, visitando as várias academias
de Torá daqueles dias; incógnito, jamais revelando sua identidade.
Rashi
chegou a uma yeshivá e sentou-se para escutar a palestra do Rosh Yeshivá. Este
chegou a uma passagem difícil no Talmud, tentou explicá-la aos alunos, mas não
foi muito bem-sucedido. Quando Rashi ficou sozinho, tomou a tira de pergaminho
onde escrevera seu comentário, na qual aquela passagem estava explicada de
maneira simples e clara, e a colocou dentro da Guemará do Rosh Yeshivá. Na manhã
seguinte, quando este abriu a Guemará encontrou um misterioso pedaço de
pergaminho no qual a passagem do Talmud estava explicada tão claramente que ele
ficou atônito. Contou o fato aos estudantes, e estes decidiram que deveria ter
sido enviado pelo Céu. Rashi escutou os elogios aos seus comentários e ficou
feliz por saber que fora útil aos estudantes, mas não revelou o autor. E assim
Rashi continuou a visitar várias academias de Torá em muitas cidades e países, e
em toda parte colocava suas tirinhas secretamente.
Pela maneira que os
pedaços de pergaminho eram recebidos, cada vez mais Rashi percebia o quanto eram
necessários, e continuou a escrever seus comentários sobre o Chumash inteiro, os
Profetas, e todos os tratados do "vasto oceano do Talmud". Estas misteriosas
"tiras" de pergaminho eram copiadas e circulavam em todas as academias de Torá,
porém ninguém sabia o nome do autor.
Certa vez Rashi foi descoberto
enquanto colocava seu comentário da maneira usual, e o segredo foi revelado. Foi
imediatamente aclamado por todos como autor daquele maravilhoso comentário. O
nome de Rashi tornou-se conhecido em todo o mundo. Em toda yeshivá, em toda
escola de Torá, o comentário de Rashi era usado pelos jovens e pelos idosos, e
ele literalmente abriu os olhos de todos os eruditos de Torá. Nenhum outro
rabino ou comentarista ganhou tanta popularidade como Rashi. Há pouquíssimos
Chumash ou Guemarot impressos sem Rashi, e o estudo de Torá e Talmud se tornou
impensável sem a ajuda das explicações de Rashi.
Rashi teve somente
filhas, alguns dizem que duas, outros afirmam que foram três. Seus genros e
netos foram eruditos e famosos comentaristas da Torá e Talmud. Um de seus netos
foi Rabenu Tam, outro Rashbam (Rabi Samuel ben Meir). Os netos e discípulos de
Rashi foram os autores do "Tosefot" - conhecido por todos os estudantes do
Talmud.
Em seus últimos anos de vida Rashi presenciou tempos difíceis.
Era a época dos cruzados, quando milhares de judeus foram massacrados por
multidões enfurecidas que eliminaram comunidades inteiras. O coração de Rashi
ficou partido e repleto de tristeza pelo sofrimento de seus desafortunados
irmãos, e ele escreveu "Piyutim", alguns dos quais se tornaram parte de nossas
preces (especialmente na Selichot).
A saúde de Rashi faltou-lhe na
velhice. Ele ficou fraco e doente, e não podia mais escrever. Sua filha agia
como secretária; ele ditava a ela suas respostas às muitas perguntas que lhe
chegavam, enviadas pelos maiores eruditos do seu tempo.
Em 29 de Tamuz de
4865, Rashi faleceu. Ele continua vivo, no entanto, em suas obras que são
estudadas por todos os meninos e jovens das yeshivot e Escolas Talmud Torá, e
também pelos mais velhos.
Durante centenas de anos o Bet Hamidrash em
Worms onde Rashi estudava ficou de pé. Nele havia a antiga cadeira de pedra onde
ele costumava sentar-se. Muitas pessoas iam visitar com reverência estas antigas
relíquias. Porém no início de Tevet de 5698 (por volta de 1937) alguns vândalos
a destruíram e incendiaram.